domingo, 15 de janeiro de 2012

A verdadeira moral da história


O segredo do sucesso dos contos de fadas é o seu poder de estimular nosso inconsciente. Entenda as entrelinhas psicológicas dos clássicos que mexem com crianças e adultos. Ganhei o livro citado neste texto: "Fadas no Divã"e adorei a leitura. Recomendo a pais e educadores.

Texto: Emiliano Urbim

Era uma vez uma aldeia onde os moradores passavam as noites contando e ouvindo histórias. As preferidas eram aquelas com enredos fabulosos, mas que despertavam sensações reais, confusas, secretas. Ao redor do fogo circulavam contos sobre bruxas e princesas, belas e feras, meninas e lobos, onde sobravam fome, medo, vingança e morte. E ao final, nem sempre feliz, alguém sempre pedia: “Conte outra vez”.

Em aldeias como essa, de histórias como essas, surgiram os contos de fadas (batizados por uma senhorinha francesa insensível ao fato de que a maioria nem fada têm). Os originais medievais eram destinados a ouvintes de todas as idades, mas, uma vez eleitos favoritos da infância burguesa, foram sendo sucessivamente amenizados até chegarem às atuais versões “censura livre”.

Essas narrativas são um patrimônio abstrato da humanidade, passado adiante via voz, livros, rádio, TV, internet – e, para quem está na faixa dos 30, vinis coloridos. “Isso é absolutamente surpreendente num mundo cada vez mais mutante”, afirma o casal Diana Lichtenstein Corso e Mário Corso no livro Fadas no Divã, onde fazem uma análise psicológica das histórias infantis. “Como esses restos do passado vieram parar nas mãos da crianças de hoje?”, perguntam os psicanalistas.

Nos anos 70, o austríaco Bruno Bettelheim emplacou a tese de que os contos que sobreviveram são aqueles que mais mexem com o inconsciente de narradores e ouvintes. Uma seleção natural favoreceu as histórias que reverberam na mente, que trazem nas entrelinhas questões emocionais, sexuais, familiares, universais. 

“No conto de fadas, o paciente encontra soluções analisando as partes da história que dizem respeito a seus conflitos”, escreve em A Psicanálise dos Contos de Fadas. Preservamos a história de Chapeuzinho não porque ela ensina a ter cuidado com estranhos, mas pelos sentimentos estranhos que ela provoca.

Nas próximas postagens, mostramos que a interpretação de clássicos como Branca de Neve, Patinho Feio e Cinderela pode ser reveladora, tanto para quem já perdeu o medo do lobo quanto para quem ainda espera pelo príncipe encantado.

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